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Covardia 1: O Mal Oposto à Assertividade e a outras Virtudes

Se for importante, não se intimide com a oposição
e fale assim mesmo, sem insistir, sem ofender, mas não se omita.


A natureza da Covardia: quando o medo domina a Consciência

A covardia não é simplesmente sentir medo — o medo é uma emoção natural e até útil em muitos casos. O problema começa quando o medo paralisa a vontade, impede a pessoa de agir corretamente ou a leva a se omitir diante da verdade. O covarde recua não por prudência, mas por falta de caráter e de fortaleza interior. Ele teme mais o julgamento dos homens mais do que a justiça de Deus.

No dia a dia, a covardia se manifesta de forma sutil: alguém que se cala quando deveria corrigir um erro, que finge concordar para evitar conflito, que omite sua fé por medo de zombarias. Todos esses comportamentos revelam uma alma que não se apoia na verdade, mas na busca por aceitação social. O respeito humano, quando exagerado, torna-se cúmplice da covardia e empurra o indivíduo para uma vida superficial, cheia de concessões.

Na vida cristã, Jesus nos advertiu com firmeza: “Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, o Filho do Homem também se envergonhará dele quando vier em sua glória” (Lc 9,26). Esse alerta é claro: negar a verdade por medo é um pecado grave que tem consequências eternas. A covardia não é apenas uma fraqueza psicológica, mas uma falha moral que compromete a construção de um caráter e uma vida saudável e plena.

Passividade, Respeito Humano e Conivência: os Frutos Amargos da Covardia

A covardia costuma se esconder sob a aparência de paz ou educação. Muitos dizem: "Não quero brigar", "Prefiro evitar conflito", "Deixa pra lá". Mas há momentos em que o silêncio é omissão. A passividade é a forma mais comum da covardia cotidiana — uma pessoa que não impõe limites, não defende o bem, não se posiciona. Isso pode parecer humildade ou delicadeza, mas na verdade é fuga.

Outro fruto comum da covardia é o respeito humano exagerado. Trata-se do medo de desagradar os outros, mesmo quando a verdade exige ser afirmada. A pessoa que vive escravizada pela opinião alheia se torna incapaz de ser autêntica, perdendo sua liberdade interior. Ela sacrifica sua consciência para agradar os outros, tornando-se incoerente e infeliz e chega a negar a Deus e aos valores morais que diz professar.

E há também o perigo da conivência com o mal. Quando alguém se omite diante de uma injustiça, um erro moral ou uma atitude abusiva, essa pessoa se torna cúmplice, mesmo sem agir ativamente. O mal prospera quando os bons se calam. Quantas vezes, por covardia, deixamos de proteger os mais fracos, de corrigir uma mentira ou de denunciar o que está errado?

Formas de Covardia 

1. Covardia espiritual e moral

  1. Quando a pessoa se cala diante do erro, do pecado ou do mal para evitar críticas.
  2. Covardia de omitir-se em defender a fé, a verdade ou a justiça.
  3. Covardia em não assumir compromissos por medo de perder conforto.

2. Covardia contra os próprios pais (idosos, doentes ou frágeis)

  1. Abandono emocional ou físico.
  2. Indiferença, impaciência ou ingratidão.
  3. Terceirização injusta dos cuidados por egoísmo e comodismo.

4. Covardia masculina na relação com a mulher

  1. Uso da força física como forma de dominação.
  2. Omissão na liderança moral e espiritual.
  3. Desculpas covardes para traição, abandono ou infidelidade emocional.

5. Covardia institucional (por parte de líderes, autoridades, professores, chefes)

  1. Silêncio cúmplice diante de abusos.
  2. Medo de perder prestígio ou posição.
  3. Covardia em não proteger os mais vulneráveis.

6. Covardia social

  1. Fingir que não viu injustiças por medo de se comprometer.
  2. Medo de defender os fracos por pressão de grupo.
  3. Escolher o conforto da maioria anônima.

7. Covardia afetiva

  1. Medo de amar com sinceridade.
  2. Fugir de relacionamentos profundos por medo de sofrer.
  3. Abandonar pessoas queridas no momento em que mais precisam.
  4. Negligenciar o cuidado dos filhos: não atender suas necessidades básicas tanto físicas quanto emocionais.

8. Covardia intelectual

  1. Evitar buscar a verdade por medo de ser confrontado.
  2. Apego a ideologias por comodismo.
  3. Rejeitar argumentos sólidos apenas para não mudar de opinião.

9. Covardia vocacional

  1. Recusar-se a seguir a própria vocação por medo do sacrifício.
  2. Omissão diante de um chamado a servir, educar, liderar ou consagrar-se.
  3. Preferência por uma vida confortável em vez de uma vida com propósito. 

A Coragem Cristã: como Vencer a Covardia e Viver com Verdade

A resposta à covardia é a coragem virtuosa, também chamada de fortaleza. Trata-se de uma das quatro virtudes cardeais, indispensável para enfrentar as dificuldades com firmeza de alma. A verdadeira coragem não é ausência de medo, mas a decisão firme de fazer o bem, mesmo em situações adversas. O cristão corajoso é aquele que prefere desagradar os homens a desagradar a Deus.

A assertividade, nesse contexto, é o reflexo concreto da coragem no campo da comunicação. Uma pessoa assertiva fala com clareza, sem agressividade nem submissão. Ela é firme, mas respeitosa. Diz o que precisa ser dito com responsabilidade e sem medo de parecer impopular. É assim que se constroem relacionamentos saudáveis e se vive uma fé coerente.

Para vencer a covardia, é necessário buscar o autoconhecimento e fazer exames de consciência frequentes. É preciso perguntar-se: “Calei-me por prudência ou por medo?” “Defendi o bem ou fui conivente com o erro?” “Fui passivo para evitar dor ou porque me faltou coragem?” A oração, os sacramentos e a vida de virtude são os meios eficazes para fortalecer a alma contra o medo e cultivar a verdadeira liberdade interior.

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