Os pecados internos são aqueles que envolvem apenas as nossas faculdades espirituais, como a inteligência, a vontade, a imaginação, a memória e o apetite sensitivo. Eles não dependem de ações concretas, mas podem ter um peso moral significativo. Vamos explorar esse tema para entender melhor como identificá-los e combatê-los.
O que são pecados internos?
Os pecados internos são aqueles que acontecem no âmbito dos nossos pensamentos, desejos e memórias. Eles incluem:
- Pensamentos impuros ou maldosos
- Desejos desordenados
- Complacência mórbida (delectação morosa): o prazer em imaginar um ato pecaminoso sem a intenção de cometê-lo
- Alegria com pecados passados
- Inveja: o descontentamento com o bem alheio, visto como uma ameaça à própria excelência
Esses pecados, embora não se manifestem externamente, podem ser tão graves quanto os pecados externos. Por exemplo, a inveja é considerada um pecado mortal ex genere suo,(1) pois se opõe diretamente à caridade.
O peso moral dos pecados internos
A gravidade desses pecados varia de acordo com o consentimento da vontade e o controle da razão. Quando o apetite sensitivo domina a razão, as paixões desordenadas podem diminuir a liberdade do ato e, consequentemente, a culpa. No entanto, pecados cometidos "frios", ou seja, com plena consciência e deliberação, tendem a ser mais graves.
Um aspecto importante é que um único ato físico pode incluir múltiplos atos internos. Por exemplo, desejar um objeto alheio, planejar roubá-lo e finalmente executar o roubo constituem um único pecado até que haja uma interrupção moral, como o arrependimento.
A confissão dos pecados internos
Na confissão, os pecados internos muitas vezes são implícitos na confissão dos pecados externos. Por exemplo, ao confessar um pecado contra a castidade, não é necessário mencionar os pensamentos e desejos que o acompanharam, a menos que esses atos internos configurem uma espécie diferente de pecado (como desejos por pessoas casadas ou consagradas).
Em casos de pecados internos contínuos, como o ódio ou a blasfêmia por hábito, basta confessar o hábito e a duração, já que pode ser impossível precisar cada ocorrência.
Diferença entre pecados internos e tentações
É crucial distinguir os pecados internos das tentações. Estas, por si só, não são pecados, desde que não haja consentimento. Pessoas escrupulosas ou traumatizadas, crianças ou aquelas com problemas mentais podem experimentar pensamentos blasfemos compulsivos sem intenção ou consentimento, e muitas vezes acreditam erroneamente que pecaram.
Como combater os pecados internos
1. Vigilância constante: Esteja atento aos seus pensamentos e desejos, identificando aqueles que são desordenados. Alguns podem estar sendo provocados por traumas de infância como o trauma complexo e estar repetindo situações que precisam ser superadas na forma de um pensamento repetitivo ou pesadelo. Procure ajuda de profissional de saúde mental para entender o que o está perturbando e porque e assim superar de vez a irrupção de pensamentos indevidos.
2. Orações e meditação: Fortaleça a sua vida espiritual para resistir às tentações e manter a razão no controle.
3. Distração saudável: Quando surgirem pensamentos ou desejos impuros, busque atividades que ocupem a mente de forma positiva. Ou seja, você não pode evitar um pensamento repentino, mas pode dirigir sua atenção para outra coisa.
4. Confissão regular: Mesmo que os pecados internos sejam implícitos na confissão dos externos, é importante reconhecê-los e buscar a graça do sacramento.
Conclusão
Os pecados internos são um desafio silencioso, mas poderoso, na vida espiritual. Eles nos lembram que a batalha contra o mal começa dentro de nós mesmos. Ao reconhecê-los e combatê-los com oração, vigilância e os sacramentos, podemos crescer em virtude e aproximar-nos cada vez mais de Deus.
(1) A expressão "ex genere suo" é uma locução latina que significa "por seu próprio gênero" ou "em sua própria natureza". No contexto teológico e moral, ela é usada para indicar que algo é intrinsecamente grave ou mau por sua própria essência, independentemente das circunstâncias ou da intenção do agente. Por exemplo, quando se diz que a inveja é um pecado mortal ex genere suo, significa que, por sua própria natureza, a inveja é um pecado grave que se opõe diretamente à virtude da caridade.
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