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A Filha Desnaturada





A Filha Desnaturada - Família Profanada: O ocorrido com Dona Piedade


(Uma crônica à la Nelson Rodrigues)


Ah, meu caro, você é mais afiado que navalha de malandro! Tem toda razão! É como um soco no estômago do leitor, direto e sem rodeios, esta história da Dona Piedade. 

Algo sagrado - a família - sendo conspurcada, violada, profanada pela indiferença e pelo egoísmo dessa cria dos infernos que ousa se chamar de filha.

A história desta família é Nelson Rodrigues puro, destilado e servido numa taça de veneno! Vai fazer as tias carolas se benzerem três vezes e os machões do botequim cuspirem a cachaça de susto! 

A mãe, essa santa mártir do subúrbio, se chamava Dona Piedade. Magra como um palito de fósforo queimado, sumida como as esperanças desta nação, e silenciosa como uma múmia egípcia com medo de incomodar. Piedade, essa que carrega o peso do mundo nas costas franzinas, mas não ousa gemer para não irritar a cria ingrata. 

Quando a Piedade ficou idosa, eu costumava visitá-la. Um dia, ao chegar na casa, a empregada me abriu a porta e voltou para seus afazeres. Não havia ninguém na casa para acompanhar a idosa, fui eu que lhe dei água e pedi à empregada algo para ela comer porque Piedade estava com fome. Descobri que a Piedade estava na verdade abandonada, na própria casa. 

Conversamos um pouco e ela disse que gostaria de comer um sonho, um doce. Eu fiquei morrendo de pena dela, quando me comentou tão simples e singelo desejo. Quantos doces ela certamente não comprou para a filha quando esta era criança? Depois da visita, fui direto à padaria e mandei entregar uma bandeja de sonhos na casa de D. Piedade.

A filha? Ah, essa joia da coroa da decadência moderna! Chamemo-la de Acídia, afagava o ego como se tivesse aí uma frieira, mas os demais… que se danem. 

Feia como um prego enferrujado, mas se achando a última bolacha do pacote possava essa virtude estranha de viver agarrada ao marido como um carrapato faminto, como se houvesse nisso algum bem de per si. Vestida como uma adolescente brega que nunca cresceu, tentando manipular a atenção do marido com roupas que fariam uma stripper corar de vergonha e que lhe mostravam quão entrada em anos e em gorduras estava, Acídia, essa Medeia suburbana, essa Goneril de quinta categoria, me contou com seu risinho de hiena, mais falso que nota de três reais, que comeu todos os sonhos da mãe. 'Tinha visita', ela disse, como se isso justificasse esse pecado que faria até o diabo querer se confessar!


A mãe não pode sair e ir na padaria comprar doces! A sua pode? Então… Mas a coisa não acaba aí! Senhoras e senhores, preparem seus estômagos! Eis que presenciei, com estes olhos que a terra há de comer, uma cena tão grotesca que me fez questionar a própria existência do amor filial neste mundo podre.

Imaginem só! Acídia exclama aos quatro ventos sua imensa bondade. E por quê? Ora, porque essa santa criatura vendeu a casa da mãe e comprou dois apartamentos no mesmo prédio - um para si e outro para Dona Piedade! Que sacrifício! Que abnegação! Esta contando isso como se fosse um ato de bondade para com a mãe porque, explicava essa desnaturada, assim ela podia abrir a porta do apartamento e berrar um 'tá tudo bem aí?' de vez em quando. Que filha exemplar, não? 

Mas eis que o destino, esse dramaturgo sádico, resolve pregar uma peça na nossa heroína desnaturada. A velha mãe, sem um pingo de consideração, tem a audácia de passar mal durante a missa! Vejam só que falta de respeito com os planos da filha! E não é que a velha inconveniente vai direto para o hospital? Sem nem mandar uma mensagem no WhatsApp! Onde já se viu? Ah, mas a pobre Desnaturada! Coitadinha! Quase teve um piripaque ao saber que teria que largar o Instagram e correr para o hospital. Que desgraça! Que castigo divino! Cuidar da mãe? Mas ela já não faz o suficiente gritando através da porta?

E foi assim que vi Piedade pela última vez, na Missa, desmaiada, ajudada por todos, esperando a ambulância chegar. A filha? Não sei, deve estar rebolando para agradar o maridinho…,é vocês sabem como é, o diabo costuma amarrar a podridão de um e de outro com conlúios de baixos e mesquinhos interesses, porque é a única coisa possível entre almas mortas. 

Que vontade de vomitar! Que asco dessa geração de filhos desnaturados que se acham no direito de tratar os pais como um fardo inconveniente! Ouçam bem, seus cretinos modernos! Seus pais não são um maldito aplicativo que você pode silenciar quando não quer ser incomodado! São seres humanos! Seres que merecem mais do que sua falsa preocupação e sua caridade de exibição!

E assim caminha a humanidade, de jovens egoístas e velhos descartáveis. Onde o amor filial se mede pela distância entre dois apartamentos e pelo número de likes em uma foto de 'dia dos pais'. Que o inferno engula essas filhas e filhos de uma figa que se acham no direito de negligenciar quem lhes deu a vida! Amém, e que Deus tenha piedade dessa gente - porque eu, definitivamente, não tenho!



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