O ouro
Guerra Junqueiro
Era uma vez um rei, que, tendo achado no seu reino algumas minas d'ouro,
empregou a maior parte dos vassallos a extrair o ouro d'essas minas; e o
resultado foi que as terras ficaram por cultivar, e que houve uma grande
fome no paiz.
Mas a rainha, que era prudente e que amava o povo, mandou fabricar em
segredo frangos, pombos, gallinhas e outras iguarias todas de ouro fino;
e quando o rei quiz jantar mandou-lhe servir essas iguarias de ouro, com
que elle ficou todo satisfeito, porque não comprehendeu ao principio
qual era o sentido da rainha; mas, vendo que não lhe traziam mais nada
de comer, começou a zangar-se.
Pediu-lhe então a rainha, que visse bem
que o ouro não era alimento, e que seria melhor empregar os seus
vassalos em cultivar a terra, que nunca se cansa de produzir, do que
trazel-os nas minas á busca do ouro, que não mata a fome nem a sede, e
que não tem outro valor além da estimação que lhe é dada pelos homens,
estimação que havia de converter-se em desprezo, logo que ouro
apparecesse em abundancia.
A rainha tinha juizo.

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