Pecados Contra a Justiça e os Direitos dos Outros (Geral)
I. Pecados Contra a Propriedade e Bens (Violando os Sétimo e Décimo Mandamentos)
O sétimo mandamento proíbe tomar ou reter injustamente os bens do próximo ou danificá-los de qualquer forma. O décimo mandamento proíbe cobiçar os bens do próximo.
- Furto: É a usurpação da propriedade alheia contra a vontade razoável do proprietário. Geralmente é um pecado grave ex genere suo (por sua própria natureza), embora possa ser venial devido a matéria leve ou imperfeição do ato.
- Retenção injusta: Manter deliberadamente itens emprestados ou objetos perdidos.
- Fraude no comércio: Inclui preços injustos, especulação sobre a ignorância ou miséria dos outros, manipulação artificial do valor dos bens.
- Salários injustos: Não pagar aos trabalhadores um salário justo.
- Mau trabalho: Realizar um trabalho mal feito, causando danos como mau atendimento, demora, serviço pela metade ou falsamente complexificado para gerar cobrar mais caro, ou gerando necessidades de tratamentos, exames ou consumo falsas feitas para ganhar dinheiro. Valer-se da ignorância do cliente para cobrar mais, atender mal, usar produtos não recomendados ou fraudados.
- Fraude fiscal/evasão: Evadir injustamente impostos justos e proporcionais. Este é considerado um pecado grave se envolve uma quantia substancial.
- Falsificação de documentos/faturas: Especialmente se feito para fraudar.
- Despesas excessivas/desperdício: Implica o uso indevido de recursos que poderiam servir aos outros ou ao bem comum.
- Dano a propriedade privada ou pública: Causar intencionalmente dano à propriedade de outros.
- Usura: Cobrar juros excessivos sobre empréstimos.
- Rapina: Tomar propriedade à força.
- Cobiça/Avareza: Um desejo desordenado por bens terrenos. Embora o ato de cobiçar (décimo mandamento) seja interno, quando leva a atos externos contra a justiça, torna-se um pecado grave. A avareza, como pecado capital, gera outros pecados como fraude, violência e crueldade para com os pobres.
II. Pecados Contra a Verdade e a Reputação (Violando o Oitavo Mandamento)
O oitavo mandamento proíbe o falso testemunho, a mentira e a difamação. Protege o direito a um bom nome, reputação e respeito.
- Mentira: Dizer o que é falso com a intenção de enganar. É um ato de violência contra a capacidade do outro de conhecer, minando a confiança e as relações sociais.
- Falso testemunho e perjúrio: Fazer uma declaração contrária à verdade, especialmente sob juramento em tribunal. Isso é particularmente grave, pois pode condenar uma pessoa inocente ou absolver um culpado, comprometendo seriamente a justiça. O perjúrio é um pecado grave.
- Mentira na confissão: Ocultar deliberadamente pecados mortais ou mentir sobre matéria necessária torna a confissão inválida e sacrílega. Mentir sobre matéria leve ou grave não necessária é geralmente um pecado venial de irreverência.
- Avaliações da Aparência Física: Tecer considerações sobre a aparência física de uma pessoa daí inferindo consequências negativas como atitudes racistas, elitistas ou tomando liberdades luxuriosas.
- Julgamento temerário: Admitir como verdadeiro, mesmo implicitamente, um defeito moral em um vizinho sem fundamento suficiente.
- Detração: Revelar as falhas e pecados de outra pessoa sem razão objetiva válida, especialmente àqueles que não os conhecem. Isso fere a justiça e a caridade.
- Calúnia: Danificar a reputação de outro com palavras contrárias à verdade, levando a julgamentos falsos sobre ele. É uma ofensa particularmente grave contra a justiça e a caridade.
- Falsa denúncia de um confessor por solicitação: Acusar falsamente um confessor inocente de solicitar pecado sexual é um pecado grave e acarreta excomunhão latae sententiae reservada à Santa Sé. O penitente não pode ser absolvido até que essa falsa denúncia seja formalmente retratada e os danos reparados.
- Adulação: Encorajar ou confirmar outra pessoa na malícia de suas ações ou perversidade de conduta. É um pecado grave quando cúmplice em vícios ou pecados graves.
- Quebra de segredo: Divulgar um segredo natural ou profissional sem autorização. Este é um pecado grave e exige reparação pelos danos causados.
III. Pecados Contra a Vida e a Integridade Corporal (Violando o Quinto Mandamento - em relação aos outros)
O quinto mandamento proíbe matar e busca salvaguardar a paz. Os pecados aqui focam em ações que prejudicam injustamente ou tiram a vida ou a integridade corporal de outro.
- Homicídio: Tomar diretamente a vida de um humano inocente é sempre um pecado grave. E isto inclui o pecado de aborto.
- Lesão física/Mutilação: Causar danos corporais graves ou alteração permanente a uma pessoa inocente é um pecado grave.
- Escândalo: Levar outra pessoa a cometer um pecado grave por meio de ações ou omissões. Isso é uma falta grave. Ofende diretamente a caridade e a virtude que a outra pessoa é levada a violar. Há um dever de reparar qualquer dano espiritual causado pelo escândalo. É também pecado de escândalo atitudes que levam a desanimar o outro de seguir o bom caminho, como por exemplo, atitudes indecorosas de sacerdotes, religiosos ou cristãos.
- Cooperação no pecado: Participar direta ou indiretamente nos pecados cometidos por outros. Isso também pode incluir aconselhar, louvar ou aprovar pecados; não revelar ou prevenir quando obrigado; ou proteger aqueles que fazem o mal.
IV. Abusos de Autoridade e Cargo Público
Aqueles em posições de autoridade têm o dever de agir para promover o bem comum e respeitando a dignidade das pessoas e a lei natural. Violações constituem pecados graves contra a justiça.
- Promulgação de leis injustas: Leis que ordenam o pecado, opõem-se à lei natural ou divina, ou impõem fardos excessivos aos cidadãos. Tais leis não obrigam a consciência e podem até necessitar desobediência.
- Exercício despótico ou arbitrário do poder: Agir sem razão justa ou segundo capricho, o que é imoral e ruinoso para o estado.
- Corrupção: "Comprar" o julgamento de quem deve decidir de acordo com a lei.
- Preferência/Favoritismo: Juízes mostrando preferência a certos indivíduos.
- Negligência dos deveres do cargo: Falha em promover e defender o bem comum.
- Falha em agir contra a injustiça: Não revelar ou prevenir pecados quando obrigado pelo cargo.
- Uso indevido da mídia/informação: Os responsáveis (por exemplo, jornalistas, autoridades públicas) têm o dever de servir à verdade e não ofender a caridade. Isso inclui:
- Não distorcer ou falsificar notícias, exagerar, minimizar ou ser superficial na análise.
- Não manipular a opinião pública por meio de informações falsas.
- Não difamar os outros. Não assista programas de fofoca, vulgares ou que sensacionalizam a vida dos outros.
- Não procure, não leia, não divulgue, não comente e nunca queira saber sobre material imoral/pornográfico/pedófios ou que fomentam o mal.
- Não cometa atos de violação dos direitos de privacidade.
Injustiças na Profissão Legal
- Juízes: Não devem julgar com paixão, nem com entendimentos distorcidos por emoções mal resolvidas, nem aceitando subornos, nem promulgando sentenças injustas, nem permitindo influências políticas de qualquer espécie. Os erros de um juiz podem incorrer em obrigação de reparação.
- Advogados/Notários/Secretários: Não devem falsificar documentos ou dão nem dar testemunho falso, o que é um pecado muito grave e requer a restituição da fama ou bens materiais se danos forem causados.
Injustiças nas Profissões Comerciais/Financeiras
Exploração de trabalhadores (por exemplo, não concedendo descanso legítimo, negando deveres religiosos) ou contadores falsificando livros/documentos para evadir impostos. Isso implica obrigações de restituição.
Não venda produtos vencidos, mal acondicionados, alterados geneticamente, poluídos por pesticidas, falsificados, ou que utilizam produtos que fazem mal como óleos vegetais, corantes, amido modificado que é produto químico gerado em laboratório. Não venda, nem na barraquinha da Igreja, produtos sem as condições de higiene que você aprovaria para sua família.
V. Pecados Sociais
Os pecados contra a justiça também podem assumir uma dimensão social mais ampla:
- Criação de "Estruturas de Pecado": Pecados pessoais, através da repetição e conivência, levam a inclinações perversas, obscurecem a consciência e corrompem a avaliação do bem e do mal, tendendo a se reforçar. Isso provoca situações sociais e instituições contrárias à bondade divina, levando a "estruturas de pecado" que induzem as vítimas a cometer o mal em troca.
- Perturbação da Harmonia Social: Ações que minam a paz e a concordância entre as pessoas baseadas na justiça. Isso inclui promover agitação ou rebelião contra a autoridade legítima quando não justificada por leis injustas.
- Negação de Direitos Fundamentais: Violação do direito inerente à liberdade, boa reputação e privacidade. Por exemplo, a Doutrina Católica condena o "erro delirante" que a liberdade de interpretação livre ao bel prazer deve ser universalmente admitida e garantida sem limites, argumentando que isso leva ao erro, à manipulação por ideologias mal itencionadas e à corrupção.
VI. Obrigação de Reparação
Um aspecto crucial dos pecados contra a justiça é o dever de reparação (satisfação ou expiação).
Muitos pecados prejudicam o próximo, exigindo reparação pelo dano causado, como restituir bens roubados ou restaurar a reputação daqueles que foram difamados.
Mesmo que o perpetrador tenha sido perdoado, o dever de reparar a injustiça e a verdade permanece. Se a reparação pública for impossível, deve ser feita em segredo. Se a parte lesada não puder ser indenizada diretamente, deve-se dar satisfação moral em nome da caridade. Esta obrigação vincula a consciência em proporção ao dano causado.
O desejo de cumprir a penitência é essencial para a validade da absolvição, e o cumprimento efetivo da penitência imposta é necessário para a integridade do sacramento. Negligenciar deliberadamente uma penitência por pecados graves é, em si, um pecado grave.
Exame de Consciência
Pecados Contra a Propriedade e Bens
- Roubei algo, mesmo que pequeno?
- Retive algo emprestado após o prazo?
- Fiz fraude no comércio, cobrando preços injustos?
- Paguei salários injustos aos meus empregados?
- Fiz mal o meu trabalho?
- Fraudei impostos devidos?
- Falsifiquei documentos ou faturas?
- Gastei dinheiro em excesso, desperdiçando recursos?
- Causei danos a propriedade privada ou pública?
- Cobrei juros excessivos em empréstimos?
- Tomei algo à força?
- Cobicei os bens alheios?
Pecados Contra a Verdade e a Reputação
- Menti para enganar alguém?
- Dei falso testemunho em alguma situação?
- Menti na confissão?
- Fiz comentários ofensivos sobre a aparência de alguém?
- Julguei mal alguém por vaidade e exibicionismo?
- Falei mal de alguém pelas costas?
- Caluniei alguém, espalhando mentiras?
- Acusei falsamente alguém de má conduta?
- Adulai alguém para obter vantagens?
- Revelei segredos que me contaram?
- Teci considerações sobre a aparência de uma mulher? Reconheço minha falta de castidade?
Pecados Contra a Vida e a Integridade Corporal
- Cometi homicídio?
- Pratiquei ou apoiei o aborto?
- Causei lesão física em alguém?
- Fui causa de escândalo, levando outros a desanimar do bom caminho ou a pecar?
- Cooperei com os pecados de outros?
Abusos de Autoridade e Cargo Público
- Votei em leis injustas?
- Exerci o poder de forma autoritária?
- Aceitei propina? Ofereci suborno?
- Mostrei favoritismo no meu trabalho?
- Recebi, mas não trabalhei?
- Negligenciei meus deveres no cargo?
- Usei a mídia para espalhar notícias falsas?
- Julguei com parcialidade?
- Falsifiquei documentos?
- Explorei trabalhadores?
- Vendi produtos estragados ou falsificados?
Pecados Sociais
- Participei de "estruturas de pecado"?
- Perturbei a harmonia social?
- Neguei direitos fundamentais a alguém?
Obrigação de Reparação
- Deixei de reparar um dano que causei?
- Não cumpri a penitência dada na confissão anterior?
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