Debochar: Pecados contra a Caridade, A Justiça e o Quinto Mandamento

Debochar, Criticar ou Desfazer do outro Constantemente

(Pecado contra a Caridade, a Justiça e o Quinto Mandamento — por abuso emocional e psicológico)

Definição do Pecado

Este pecado consiste em debochar, criticar, humilhar ou desfazer do próximo de maneira habitual, principalmente em relações marcadas por vulnerabilidade ou dependência, como entre pais e filhos, cônjuges, cuidadores e idosos. Trata-se de um tipo de abuso emocional ou psicológico, cometido através de palavras, gestos, omissões, atitudes cruéis ou desprezíveis, que ferem a dignidade, a integridade moral e a estabilidade psíquica do outro.

Embora às vezes disfarçado de “brincadeira” ou “sinceridade”, esse comportamento revela uma desordem da vontade, que escolhe uma forma de comunicação viciada, insensível, desrespeitosa e injusta — com motivações como vaidade, irritação, orgulho, desprezo ou prazer em dominar. Ele pode incluir:

  • Maltrato e crueldade psicológica, especialmente com os fracos.
  • Humilhações constantes, inclusive em público, com frases de desprezo, ironias e piadas que ridicularizam.
  • Desprezo pelo cônjuge ou pelos pais idosos, zombando da lentidão, da aparência ou da limitação do outro.
  • Falsas acusações, maledicência ou calúnia, usadas como forma de controle ou destruição da reputação.
  • Uso do poder para oprimir, especialmente em contextos familiares ou religiosos.
  • Negligência afetiva e omissão de cuidados que causam desânimo e desestruturação emocional.
  • Estimular discórdias, colocar filhos contra um dos pais ou fomentar intrigas entre membros da família.

Ainda que não haja agressão física, trata-se de uma forma grave de violência psíquica e moral, contrária ao amor devido ao próximo.


Consequências Negativas

Para o pecador:

  • Ofensa direta a Deus e desprezo pelo próximo, quebrando a comunhão da caridade.
  • Geração de vício pela repetição do pecado, com o endurecimento do coração e o obscurecimento da consciência.
  • Escravidão interior e incapacidade de amar, com prejuízo na vida espiritual e nos relacionamentos.
  • Risco de pecado mortal, especialmente quando há consciência do mal praticado e recusa de mudança.

Para a vítima:

  • Danos profundos à identidadeautoconfiançasaúde emocional e capacidade de confiar nos outros.
  • Desenvolvimento de traumastranstornos psicológicos, medo, apatia ou desordens comportamentais.
  • Crise de fé e dificuldade de confiar em Deus, especialmente quando o agressor se apresenta como autoridade religiosa ou espiritual.
  • Destruição de laços familiares, insegurança na infância e comportamentos destrutivos na vida adulta.

Para a família e a sociedade:

  • Destruição da paz no lar e propagação de um modelo de convivência violento e autoritário.
  • Repetição geracional do pecado: filhos maltratados tendem a se tornar adultos abusivos.
  • Enfraquecimento do tecido social e das virtudes da convivência fraterna, da justiça e da misericórdia.
  • Formação de estruturas de pecado, onde o abuso é normalizado e perpetuado.


Mandamento e Virtudes Ofendidas

  • Quinto Mandamento: “Não matarás” — o abuso emocional é uma forma de agressão à vida interior do outro, podendo levar à depressão, desespero e até à morte espiritual.
  • Virtude da Caridade — ao negar o amor, o respeito e a compaixão ao próximo, o abusador age contra o mandamento maior.
  • Virtude da Justiça — fere-se a justiça comutativa ao negar ao outro a honra, o bem-estar e o tratamento digno que lhe é devido.


Como Evitar Este Pecado

  1. Reconhecer a gravidade do comportamento, sem se esconder atrás de justificativas (“sou sincero”, “ele merece”, “é só uma piada”).
  2. Arrependimento sincero e confissão sacramental, com firme propósito de mudança e reparação dos danos causados.
  3. Reparação moral, com pedidos explícitos de perdão, atos de humildade, mudança no tom e no modo de tratar o próximo.
  4. Vigilância sobre si, buscando corrigir o modo de falar, as piadas, os impulsos de crítica e o prazer de humilhar.
  5. Prática das virtudes opostas:
    • Caridade: promover o bem do outro, mesmo em pequenas coisas, com afeto e respeito.
    • Justiça: dar ao outro o que lhe é devido: atenção, reconhecimento, encorajamento.
    • Paciência: especialmente diante da limitação do próximo.
    • Temperança e autodomínio: controlar os impulsos destrutivos.
    • Humildade: reconhecer as próprias falhas e não se considerar superior aos demais.
  6. Educação no amor e no diálogo dentro do lar, criando ambientes saudáveis, seguros e edificantes.
  7. Recursos espirituais frequentes: oração diária, exame de consciência, meditação sobre o perdão e a mansidão de Cristo, devoção a Nossa Senhora.
  8. Evitar más companhias e más influências, que incentivam comportamentos de desprezo, deboche e cinismo como “normais” ou “engraçados”.


Este pecado é tanto mais grave quanto mais frágil é a vítima e quanto maior é a autoridade ou influência do agressor. Não se trata de um “defeitinho de personalidade”, mas de um grave desvio moral, que precisa ser corrigido com seriedade, humildade e a ajuda da graça de Deus.


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