Conjuração: Que Pecado é esse?

CONJURAÇÃO (SCONGIURO)

A conjuração é o uso do nome de Deus, dos santos ou de realidades sagradas para induzir uma pessoa a fazer ou deixar de fazer algo. Embora em si mesma não seja sempre pecado, a conjuração torna-se gravemente ofensiva a Deus quando usada com intenções desordenadas, irreverência ou finalidades supersticiosas.


1. O que é o pecado de conjuração?

A palavra “conjuração” (em italiano scongiuro) designa o ato de invocar solenemente o nome de Deus, da Virgem Maria, dos santos ou de coisas sagradas para influenciar a vontade de alguém, seja ordenando (imperativa) ou suplicando (deprecativa). Pode ser pública (feita com forma prescrita por ministros da Igreja) ou privada, quando realizada por leigos de modo espontâneo.

O uso correto e piedoso da conjuração — como nas orações de exorcismo, em certas fórmulas devocionais ou súplicas fervorosas — é legítimo e pode fazer parte da tradição espiritual da Igreja. Contudo, a moralidade da conjuração depende da intenção com que é feita, das palavras utilizadas, e da reverência ao Sagrado.

A conjuração se torna pecado quando envolve:

  • Pedido imprudente ou presunçoso de milagres;
  • Teste temerário do poder ou da misericórdia de Deus (tentação de Deus);
  • Uso profano de nomes sagrados ou objetos litúrgicos (sacrilégio);
  • Prática supersticiosa com palavras ou objetos santos, visando efeitos que não correspondem à realidade espiritual (vana observância).


Consequências negativas

Ofensa a Deus

Toda conjuração mal dirigida constitui uma desordem diante de Deus, pois fere a santidade do seu Nome, abusa da confiança de fé e deturpa a finalidade do culto.

Prejuízos espirituais ao pecador

  • Pecado mortal, quando há irreverência grave, presunção ou sacrilégio: rompe-se a caridade no coração e a graça santificante é perdida.
  • Pecado venial, quando há menor culpa ou ignorância, mas ainda assim enfraquece a caridade e dificulta o progresso espiritual.
  • Geração de vícios, como a soberba (querer manipular Deus), a curiosidade vã (ansiedade por sinais), ou a superstição.
  • Escurecimento da consciência, que passa a julgar mal o bem e o mal, abrindo caminho para novas desordens.

Escândalo e consequências sociais

A conjuração pecaminosa, especialmente quando feita publicamente, pode escandalizar os outros, banalizar o sagrado e induzir outros ao erro, tornando-se causa de queda espiritual para os irmãos.

Penas temporais e eternas

Todo pecado traz consequências. O pecado grave exige conversão e absolvição sacramental para evitar a morte eterna. Mesmo os pecados leves precisam de purificação — nesta vida ou no purgatório — por meio da penitência e do amor.


Mandamentos e virtudes ofendidas

Primeiro Mandamento da Lei de Deus

Primeiro Mandamento — “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração” — exige adoração, confiança e reverência a Deus. A conjuração pecaminosa o ofende diretamente ao:

  • Tentar Deus, exigindo sinais ou milagres sem necessidade;
  • Praticar sacrilégio, ao usar mal o que é sagrado;
  • Cometer vana observância, ao empregar ritos ou palavras religiosas de forma supersticiosa.

Virtudes ofendidas

  • Religião: a conjuração mal feita desrespeita o culto devido a Deus.
  • : demonstra desconfiança, manipulação ou abuso do poder divino.
  • Prudência: age sem o discernimento necessário diante do sagrado.
  • Humildade: substitui a confiança serena na Providência por exigências orgulhosas, como se Deus devesse obedecer à nossa vontade.


Como evitar esse pecado

Contrição e propósito de emenda

O primeiro passo é a contrição verdadeira, ou seja, arrependimento sincero, com o firme propósito de não mais repetir o erro. Essa disposição é essencial para o perdão e para a transformação interior.

Confissão sacramental

O pecado cometido após o Batismo deve ser confessado com clareza e humildade. A confissão deve incluir o tipo de pecado, o número de vezes e as circunstâncias que agravaram sua gravidade.

Reparação do dano e penitência

Quando o pecado causou escândalo, profanação ou dano à fé dos outros, é necessário reparar com ações concretas, como retratação, oração pública, penitências proporcionais ou obras de reparação.

Fuga das ocasiões de pecado

Evite contextos, práticas ou ambientes que favoreçam o uso imprudente de fórmulas religiosas, a busca por sinais extraordinários ou a tendência a manipular o sagrado.

Formação moral e doutrinária

  • Estude o sentido verdadeiro das orações e dos gestos litúrgicos.
  • Cultive o respeito pelos nomes de Deus, dos santos e pelos objetos sagrados.
  • Rejeite qualquer forma de superstição, mesmo disfarçada de devoção.

Cultivo das virtudes

  • : confie que Deus age no tempo certo e na medida exata de sua sabedoria.
  • Esperança: abandone o desejo de controlar o sagrado e confie na Providência.
  • Caridade: ame a Deus por quem Ele é, e não por favores ou milagres.
  • Prudência: pense antes de agir ou falar em nome de Deus.
  • Humildade: reconheça os próprios limites e submeta-se à vontade divina.
  • Temperança: modere o desejo de manifestações extraordinárias.

7. Vida sacramental e oração

oração frequente, a meditação sobre os santos, a adoração e a vida sacramental contínua (confissão e Eucaristia) fortalecem a alma e formam uma consciência reta.


Conclusão

A conjuração, quando feita com piedade, pode ser uma forma legítima de oração. Mas quando usada com presunção, irreverência ou superstição, fere gravemente a Deus e a alma que o invoca.

A melhor forma de falar com Deus é com confiança, reverência e humildade. Quanto mais profundo for o amor a Deus, mais puro será o modo de pronunciar o Seu nome. O cristão que deseja viver com fé autêntica deve buscar o que é verdadeiro, rejeitar toda aparência de magia ou manipulação do sagrado, e crescer na obediência amorosa ao Pai que tudo vê e tudo sabe.


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