BRIGAS
Brigas, rivalidades, a contendas são manifestações de pecados que minam a comunhão humana e a relação com Deus. Elas estão profundamente enraizadas em desordens da vontade e das paixões. Esses atos ou desejos que expressam ódio, hostilidade, inveja ou ira desordenada, levam e acirram conflitos, discórdias e, por vezes, à violência entre as pessoas.
Essas manifestações podem ser compreendidas como:
Ódio: O desejo deliberado de mal a alguém, a alegria com seus infortúnios ou a tristeza com seus bens. Existe o ódio de inimizade, que deseja o mal pelo mal, e o ódio de abominação, que, embora possa detestar o mal em alguém, torna-se pecaminoso se odiar a pessoa pelo bem nela ou por castigos justos.
Ira (cólera): Um desejo desordenado de vingança. A ira gera indignação excessiva e rancor, podendo levar a "gritarias, blasfêmias, ofensas" em palavras e a "litígios, golpes, feridas" em ações. É considerada um vício capital que pode gerar outros pecados.
Inveja: O descontentamento diante do bem alheio, visto como uma diminuição da própria excelência.
Contendas/Rivalidades: Expressam-se como "competições, invejas, ódios", que podem culminar em "propósitos sombrios" e "ruínas insanas".
Essas ações procedem da vontade livre do homem, que, ao recusar o desígnio de amor de Deus, engana-se a si mesmo e se torna escravo do pecado.
As rivalidades, contendas e brigas são contrárias à virtude da caridade, que é o fundamento de todo mandamento cristão. Elas nascem da desordem das paixões e da falta de amor ao próximo, impedindo a comunhão e a unidade que Deus deseja para a humanidade. Ao invés de buscar o bem comum e a harmonia, essas atitudes promovem a divisão e a discórdia, revelando uma falha em reconhecer a dignidade intrínseca de cada pessoa, criada à imagem e semelhança de Deus.
Consequências Negativas
As brigas, contendas e rivalidades são consideradas pecados graves, podendo ser mortais dependendo da matéria (gravidade do mal desejado ou causado), da plena consciência e do deliberado consentimento. As consequências negativas incluem:
Destruição Da Caridade: O ódio e a inveja opõem-se diretamente à caridade, que é o amor a Deus e ao próximo. Pecados graves destroem a caridade no coração humano.
Ofensa A Deus E À Lei Divina: O pecado, em geral, é uma ofensa a Deus. A ira e a inveja são contrárias à caridade e à justiça, violando a lei divina.
Dano À Dignidade Humana E À Sociedade: Essas atitudes destroem a harmonia consigo mesmo, com os outros e com a criação. Podem levar a um "subvertimento de valores" e "desordem". A ira pode gerar "litígios, golpes, feridas", enquanto a inveja pode causar danos à reputação e à honra do próximo.
Morte Da Alma E Perigo De Danação Eterna: Pecados graves, se não houver arrependimento, podem levar à exclusão do Reino de Cristo e à morte eterna no inferno.
Proliferação Do Pecado E Vícios: A repetição de atos pecaminosos cria uma propensão ao pecado, gerando vícios que obscurecem a consciência e corrompem a avaliação do bem e do mal. A ira é um vício capital que gera "numerosos pecados interiores... de palavra... e de obras".
Mandamentos e Virtudes Violados
Este pecado ofende diretamente o Quinto Mandamento: "Não matarás". Este mandamento, na tradição cristã, não proíbe apenas o assassinato, mas toda ação que viole a integridade física ou espiritual do próximo. Assim, o ódio, o rancor, as contendas, as perseguições e as violências são ofensas a este mandamento.
Além disso, a contenda e a rivalidade ofendem as virtudes cardeais da Caridade e da Justiça:
Caridade: É a virtude teologal do amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo por amor a Deus. O ódio e a inveja são diretamente opostos à caridade.
Justiça: Consiste na vontade constante e firme de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido. A ira e a inveja podem levar a atos que violam a justiça.
Como Evitar e Remediar
Para evitar este pecado e suas manifestações, é necessário um esforço constante e o auxílio da graça divina:
Cultivar O Perdão E A Caridade: É essencial a disposição para perdoar ofensas e abandonar qualquer desejo de vingança para receber a absolvição válida. A paz é uma "obra da justiça" e um efeito da caridade, exigindo o respeito pela dignidade das pessoas e a prática da fraternidade. O perdão liberta o coração do ressentimento, permitindo que a graça divina atue.
Dominar As Paixões E Vícios Capitais: A temperança modera a atração dos prazeres e busca o equilíbrio. É preciso lutar com "seriedade e decisão" contra os "desejos maus". É fundamental identificar e combater vícios capitais como a ira, a inveja e o orgulho, pois são fontes de outros pecados. A ira, por exemplo, combate-se com a consideração da mansidão de Jesus e dos Santos, e habituando-se a refletir antes de agir, cultivando a paciência e a serenidade interior.
Vigilância E Exame De Consciência: A pureza de coração e a disciplina dos sentimentos e da imaginação são fundamentais. Praticar o exame de consciência regular e específico para identificar e combater as causas dos pecados. Isso permite um autoconhecimento profundo e a correção de atitudes prejudiciais.
Recorrer Aos Sacramentos E À Oração: A Confissão (Sacramento da Penitência) é o meio ordinário para obter o perdão dos pecados graves e para recuperar a caridade. É necessário um sincero arrependimento e o firme propósito de não mais pecar. A oração e a frequência assídua dos sacramentos (especialmente a Confissão e a Comunhão) são meios essenciais para obter a graça divina e resistir às tentações, fortalecendo a alma contra o mal.
Evitar Ocasiões De Pecado: É proibido expor-se voluntariamente a circunstâncias que representem um perigo próximo de pecar, a menos que haja uma justa causa e sejam tomadas as devidas precauções. Para os "recidivos" (aqueles que caem repetidamente nos mesmos pecados), é crucial o compromisso de romper com a ocasião de pecado, buscando ambientes e companhias que promovam a virtude.
Aceitação Do Sofrimento E Mortificação: A dor e o sofrimento, embora males em si, podem servir como um remédio para males morais mais graves, fortalecendo e purificando o indivíduo. A mortificação e o domínio de si são importantes remédios para os vícios, incluindo a ira. A mortificação envolve a renúncia de prazeres lícitos e a aceitação das dificuldades para fortalecer a vontade e direcioná-la para o bem. O domínio de si é a capacidade de controlar as paixões e os impulsos, agindo com razão e fé, e não por meras inclinações.
Conclusão
Em suma, evitar as brigas, contendas e rivalidades implica em um profundo trabalho interior de cultivo das virtudes da caridade e da justiça, sob a guia da prudência, e uma dependência constante da graça de Deus, oferecida abundantemente através dos sacramentos.
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