Rapinagem
A rapinagem (ou rapina) é um pecado grave definido como a apropiação de bens alheios realizada abertamente e com violência. Sendo uma forma qualificada de roubo, ela se opõe diretamente à justiça e à caridade, violando o direito de propriedade do próximo e o mandamento divino de não roubar.
Definição do Pecado
O pecado, em sua essência mais ampla, é uma "palavra, um ato ou um desejo contrário à lei eterna". É uma "falta contra a razão, a verdade, a consciência reta" e uma "falta ao amor verdadeiro para com Deus e para com o próximo, por causa de um apego perverso a certos bens". Fundamentalmente, o pecado é uma "ofensa a Deus", uma "desobediência, uma revolta contra Ele". Sua raiz reside na "livre vontade" do homem, sendo um "abuso da liberdade que Deus dá às pessoas criadas".
A rapinagem (ou rapina) é definida como a asportação de bens alheios realizada abertamente e com violência. É, por sua natureza, uma forma específica e particularmente grave de roubo. O roubo, por sua vez, consiste na usurpação do bem de outro contra a vontade razoável do proprietário. Além da violência implícita na sua definição, a rapina é também descrita como o ato de usurpar e manter injustamente um bem alheio. As fontes indicam que a cobiça dos bens alheios é a raiz da rapina, do roubo e da fraude.
Natureza Teológica
A rapinagem é teologicamente grave porque viola diretamente a justiça, que é uma virtude cardinal essencial para a ordem social e para a relação com Deus e com o próximo. Ao tomar violentamente o que pertence a outro, o pecador nega o direito de propriedade, desconsidera a dignidade da pessoa espoliada e atenta contra a ordem divina estabelecida.
Consequências Negativas do Pecado
As consequências da rapinagem são graves e abrangem diversos níveis:
- Pecado Mortal por Natureza: Quando se opõe à justiça, a rapinagem é um pecado mortal pela sua própria natureza (ex toto genere suo). Isso significa que, por si só, é um pecado grave que atinge os bens fundamentais do homem e a sua relação com Deus.
- Destruição da Caridade e Separação de Deus: Como pecado mortal, a rapinagem destrói a caridade no coração do homem. Desvia o homem de Deus, que é o seu fim último e a sua bem-aventurança, preferindo um bem inferior (o material) de forma injusta.
- Morte Eterna: Se um pecado mortal não for arrependido e confessado, ele acarreta a morte eterna. As privações do inferno são antecipadas nas privações do pecado mortal.
- Danos Materiais e Sociais: A rapinagem causa uma diminuição real dos bens ou do patrimônio da vítima, gerando prejuízo material. Além disso, prejudica a dignidade da pessoa espoliada e mina a confiança e as relações sociais, sendo funesta para toda a sociedade ao desestabilizar a ordem e a segurança.
- Geração de Outros Vícios e Pecados: Sendo a cobiça (ou avareza) a raiz da rapinagem, a repetição desse pecado cria uma propensão a outros vícios e pecados, obscurecendo a consciência e corrompendo a avaliação do bem e do mal. A cobiça que leva à rapina pode, por sua vez, levar à violência e à injustiça.
- Ofensa a Deus e à Solidariedade Humana: O pecado é uma ofensa a Deus, erguendo-se contra o Seu amor. Também fere a natureza do homem e ofende a solidariedade humana, pois rompe os laços de fraternidade e respeito mútuo.
- Sofrimento Interno e Infelicidade: Aquele que peca não se ama, e o pecado é um obstáculo ao desenvolvimento e aperfeiçoamento humano. A vontade dos condenados no inferno será "atormentada incessantemente por uma inveja furiosa" e por um "ódio implacável contra Deus"; mesmo nesta vida, a injustiça gera inquietude e infelicidade.
Mandamento ou Virtude Ofendida
A rapinagem ofende diretamente:
- A Virtude da Justiça: A rapinagem opõe-se diretamente à justiça, que consiste na vontade constante e firme de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido. Ao tomar bens alheios abertamente e com violência, a rapinagem viola o direito alheio de propriedade e a devida ordem social.
- O Sétimo Mandamento ("Não Roubarás"): A rapinagem é explicitamente proibida pelo Sétimo Mandamento do Decálogo, que proíbe o roubo, a usurpação do bem de outro contra a vontade razoável do proprietário. Ele proíbe toda maneira de tomar e reter injustamente o bem alheio.
- A Virtude da Caridade: Como um pecado mortal, a rapinagem destrói a caridade no coração do homem e se opõe ao amor do próximo, pois age em detrimento do bem alheio.
O Que Fazer para Evitar Esse Pecado
Para evitar e superar a rapinagem, as fontes indicam um caminho de conversão e reparação:
- Arrependimento e Propósito Firme de Emenda: É fundamental ter um disabor da alma e uma detestação do pecado cometido, unido ao propósito firme e sério de não mais o cometer. Esse propósito é condição essencial para o perdão.
- Confissão Sacramental: O perdão dos pecados graves é concedido normalmente através do sacramento da Reconciliação. Para isso, é necessária a acusação voluntária e íntegra dos pecados (confissão), com todas as circunstâncias que mudam a espécie do pecado.
- Reparação dos Danos (Restituição): Como a rapinagem prejudica o próximo em seus bens, é preciso fazer o possível para reparar esse mal, o que inclui restituir as coisas roubadas ou compensar o dano causado. A justiça exige essa reparação, que deve ser feita ao legítimo proprietário tanto quanto for possível. A obrigação de reparar é para o dano causado conscientemente e livremente. Em casos de dificuldade grave para a reparação, o confessor pode orientar, mas a vontade de fazê-lo é essencial para a absolvição. A compensação oculta (tomar algo de volta que foi injustamente devido) é geralmente ilícita, mas pode ser permitida em circunstâncias muito específicas, como a existência de uma dívida de justiça clara e a impossibilidade de resolvê-la legalmente sem grave dificuldade, sem exceder os limites da justiça e sem prejudicar o devedor.
- Fuga das Ocasiões de Pecado: Há uma obrigação grave de remover, na medida do possível, as ocasiões próximas de pecado grave. Para pecadores que se encontram em ocasião próxima voluntária de pecado grave, a absolvição pode ser diferida até que se prometam ou efetivamente rompam com a ocasião.
- Combate à Cobiça e Avareza: A cobiça é a raiz da rapina. Deve-se lutar ativamente contra a avareza (que se opõe à justiça) cultivando o pensamento nos bens celestes e na caducidade dos bens terrenos, e meditando sobre a pobreza e o desapego de Cristo.
- Cultivo de Virtudes: Buscar o domínio de si, a temperança no uso dos bens materiais e o fervor no amor a Deus e ao próximo, que levam à generosidade e ao desapego.
- Exame de Consciência: Praticar o exame particular de consciência para trabalhar especificamente na virtude da justiça e no combate à avareza e à cobiça.
- Oração e Sacramentos: Recorrer frequentemente à oração e à frequência da Confissão e da Comunhão como meios eficazes para combater o pecado e progredir na vida espiritual.
- Mortificação do Amor-Próprio: O amor-próprio desordenado, que busca a satisfação egoísta dos próprios desejos, é a raiz de todo mal, e sua mortificação é um fundamento para o combate ao pecado da rapina.
- Educação da Consciência: Procurar ter uma consciência verdadeira e reta, evitando a ignorância culposa para discernir corretamente o bem e o mal em relação à propriedade alheia e aos direitos dos outros.
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