ATACAR E NEGLIGENCIAR OS MORTOS
O pecado de atacar e negligenciar os mortos abrange uma série de ações e omissões que revelam desrespeito, desconsideração ou prejuízo para com os falecidos, sua memória ou os ritos sagrados ligados à sua passagem e descanso eterno.
Atacar e negligenciar os mortos pode ser definido como o conjunto de atos e omissões que violam a dignidade da pessoa humana mesmo após a morte e o devido respeito aos ritos e práticas estabelecidos para os defuntos, tanto no âmbito da caridade para com eles quanto na sua memória social. Isso inclui:
Insultar Publicamente ou Difamar os Falecidos
São manifestações contrárias à verdade que prejudicam a reputação e a honra de alguém, mesmo após a morte. A reputação e a fama perduram após a morte, tornando a difamação um pecado mesmo contra os falecidos.
Não Celebrar Missas (Sufrágios) Pelos Falecidos
Refere-se à omissão de orações e ofertas do Sacrifício Eucarístico em favor das almas dos defuntos. A Igreja honra a memória dos defuntos e oferece sufrágios em seu favor, especialmente o Sacrifício Eucarístico, para que, purificados, eles possam alcançar a visão beatífica de Deus.
Não Comparecer a Velórios e Missas de 7º Dia (ou Outros Ritos Fúnebres)
Implica na ausência de solidariedade com os enlutados e na não participação nos ritos que a Igreja celebra para implorar auxílio espiritual para os defuntos e consolar os vivos com a esperança da ressurreição. Tais ritos são o coração da realidade pascal da morte cristã e visam a purificação dos pecados do defunto e sua admissão ao Reino de Deus.
Não Comunicar o Falecimento
Embora não explicitamente definido como um pecado direto contra o falecido nas fontes, esta omissão pode impedir que a comunidade participe dos ritos fúnebres e ofereça o auxílio espiritual e o consolo necessários, o que seria uma falha na caridade para com os defuntos e seus entes queridos.
Não Honrar Antepassados
Significa um desrespeito pela memória e honra daqueles que precederam, o que é um direito natural de toda pessoa à sua honra e reputação.
Não Cuidar da Sepultura
Vai contra o piedoso costume de sepultar os corpos dos defuntos e zelar pelo local de seu descanso, um ato de honra ao corpo que está destinado à ressurreição e que, ao morrer, fica "abandonado pelos seus mais queridos, esquecido pelos amigos, desprezado por todos".
É fundamental ressaltar que a própria condenação dessas ações e omissões encontra um contraponto nas Obras de Misericórdia Corporais e Espirituais. A Igreja ensina que sepultar os mortos é uma obra de misericórdia corporal, um ato de caridade e respeito para com o corpo, templo do Espírito Santo, destinado à ressurreição. Da mesma forma, rezar pelos vivos e pelos mortos é uma obra de misericórdia espiritual, que reflete a caridade devida às almas no purgatório e o desejo de que alcancem a visão beatífica de Deus. Negligenciar esses deveres é, portanto, uma falha grave contra a caridade e a justiça que devemos aos que já partiram, e aos ritos sagrados que lhes são devidos.
As Consequências Negativas: O Dano que se Estende
Pecado Grave (Mortal)
Atos como a difamação são considerados pecado grave. Sendo um pecado grave, ele destrói a caridade no coração do homem, desvia-o de Deus e, se não houver arrependimento e perdão divino, acarreta a morte eterna no inferno. A ignorância da gravidade da lei moral, se culpável, não isenta da imputabilidade.
Prejuízo Espiritual aos Falecidos
A negligência em oferecer sufrágios (Missas, orações, esmolas, indulgências) priva as almas dos defuntos de um auxílio crucial para sua purificação e entrada na visão beatífica de Deus.
Escândalo Público
Ações de desrespeito ou negligência para com os mortos, especialmente se públicas, podem constituir um escândalo, que é uma atitude ou comportamento que leva outros a praticar o mal e pode arrastar o próximo à morte espiritual, sendo uma falta grave.
Dano à Reputação e Honra
Atinge a dignidade humana do falecido e de sua família, pois a honra e a reputação são um testemunho social da dignidade da pessoa.
Prejuízo às Relações Humanas e Sociais
Minar a confiança e romper o tecido das relações sociais. A injustiça social, que pode ser causada por tais pecados, também cria "estruturas de pecado" que induzem suas vítimas a cometer o mal.
Desordem e Infelicidade
O pecado é uma "diminuição do próprio ser", um atentado à perfeição e felicidade do indivíduo, além de poder conduzir a um estado de total e perpétua infelicidade na outra vida.
Mandamento e Virtudes Ofendidas
Este pecado ofende diretamente:
O Oitavo Mandamento ("Não Levantarás Falso Testemunho Contra o Teu Próximo")
Proíbe a mentira, o falso testemunho, a maledicência e a calúnia, que diretamente atingem a reputação e a honra do próximo. Ações de difamação contra os falecidos são uma clara violação deste mandamento.
A Virtude da Justiça
Esta virtude é lesionada quando se toma ou retém injustamente os bens (incluindo a honra e a reputação) do próximo, ou quando se lesa de qualquer modo esses bens. A difamação e a calúnia ferem a justiça.
A Virtude da Caridade (Amor a Deus e ao Próximo)
É a virtude mais fundamentalmente ofendida. O desrespeito, a negligência de sufrágios e o prejuízo à memória dos falecidos demonstram uma falta de amor ao próximo. O amor ao próximo exige que se queira o bem para ele, e não o mal.
A Virtude da Religião
Negligenciar ou profanar os ritos sagrados (Missas, sacramentos) e os locais de sepultura pode ser uma ofensa à virtude da religião, que exige reverência e culto devido a Deus e às coisas sagradas.
O Que Fazer Para Evitar e Remediar Este Pecado
Para evitar este pecado e remediá-lo quando cometido, as fontes apontam para as seguintes ações:
Para Evitar
Educação da Consciência Moral
É essencial para que a consciência seja esclarecida a fim de buscar e abraçar a verdade e rejeitar o que se opõe à fé e à moral.
Cultivar a Justiça e a Caridade
Praticar o amor a Deus e ao próximo em todas as ações, respeitando a dignidade e a honra de todos, incluindo os que já partiram.
Combater Vícios Capitais
Lutar contra o orgulho (que pode levar a julgamentos temerários e desprezo), a avareza (que pode levar a negligenciar deveres de caridade ou de cuidado com bens alheios), e a inveja (tristeza diante do bem alheio, que pode levar a difamação), que são raízes de muitos pecados.
Evitar o Escândalo
Tomar cuidado para que palavras ou ações não levem outros a pecar ou a ter desdém pela religião e pelos ritos sagrados.
Ponderar as Consequências dos Atos
Considerar os danos que uma ação ou omissão pode causar.
Para Remediar (Após o Pecado)
Contrição e Sacramento da Penitência
É fundamental ter contrição, que é a dor da alma e detestação do pecado cometido, com o firme propósito de não mais pecar. O perdão dos pecados graves é concedido no Sacramento da Penitência, Confissão ou Reconciliação. Na confissão, deve-se acusar todos os pecados mortais de que se tem consciência, especificando a espécie e o número, e informando sobre circunstâncias que mudam a espécie do pecado.
Restituição e Satisfação
Se o pecado prejudicou a honra ou reputação do falecido (por exemplo, por calúnia), é estritamente obrigatório reparar o mal causado. Para a calúnia, a restituição geralmente exige a retratação (desmentido); se a difamação foi sobre defeitos verdadeiros, mas indevidamente divulgados, deve-se elogiar as boas qualidades do falecido ou buscar desculpas para os defeitos. Além disso, o pecador deve realizar obras de penitência para "expiar" seus pecados e recobrar a plena saúde espiritual. A penitência deve ser proporcional, medicinal e educativa.
Oferecer Sufrágios Ativamente
Após o pecado de negligência, deve-se redobrar o compromisso de oferecer orações, esmolas e, principalmente, Missas pelos defuntos.
Exame de Consciência e Frequência Sacramental
A prática diária do exame de consciência e a assídua frequência aos sacramentos (Confissão e Eucaristia) são meios eficazes para combater a recaída e progredir na vida espiritual.
Comungar Frequentemente estando Devidamente Preparado
Ajuda a adquirir, formar, aumentar e preservar a castidade, e por extensão, a virtude em geral.
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