Covardia Com Pais Idosos: O Abandono Afetuoso e o Amor de Aparência
A covardia nem sempre se manifesta em gritos, agressões ou fugas escancaradas. Há uma covardia silenciosa, cotidiana, mascarada de “praticidade”, que se instala no coração de muitos filhos — especialmente quando se trata de seus pais idosos.
São filhos que abandonam os pais com a desculpa de que “estão por perto”. Um apartamento no mesmo prédio. Um portão ao lado. Uma empregada “de confiança”. E com isso sentem-se em paz, como se estar a poucos metros da casa dos pais significasse estar cuidando como se deve dos pais. Não se interessam de fato pelos pais, só os veem como pessoas a explorar devido ao amor que sempre demonstraram e por isso vem para almoçar, para que lhe cuidem os filhos, mas não tem a ideia de que com a idade eles precisam de cuidados. Não se interessam pelos exames que os pais precisam fazer, não observam se os remédios estão certos, não reparam se a mãe está fraca, se o pai perdeu peso, se os dois estão lúcidos, dormindo bem, comendo direito. Limitam-se a uma pergunta da porta, uma ligação rápida, uma mensagem em grupo de WhatsApp. Chamam isso de zelo. Mas não é. É covardia movida de conforto pessoal.
A covardia dos filhos para com os pais idosos é fingir que se está presente quando, na verdade, não se quer lidar com a velhice dos pais — com sua lentidão, suas repetições, suas dores, seus esquecimentos. É escapar da missão de amar quando o amor exige tempo, paciência e disposição. Covardia é deixar a mãe no terceiro andar, sozinha, enquanto a vida corre no térreo — e depois ainda ter coragem de comer o doce que era para ela, é deixá-la desidratar-se porque não se está presente lembrando de fazê-la beber água.
Covardia dos filhos no cuidado dos pais idosos é também terceirizar tudo: “a empregada cuida”, “o plano de saúde cobre”, “ela ainda está bem, não precisa de tanto assim”. Mas e o carinho? E o tempo junto? E os olhos nos olhos? E a escuta? Quem está cuidando da alma desses idosos? Quem reza com eles? Quem os prepara para o céu?
Alguns filhos que falam de empatia nas redes sociais, mas não têm coragem de sentar meia hora com a própria mãe, dizem que não sabem o que dizer a elas. Que lutam por causas distantes, mas não conseguem enxergar o sofrimento na mesma casa. Que dizem “amo meus pais”, mas fazem de tudo para não estar com eles. Isso não é amor. É covardia com cara de afeto.
Eles talvez nunca tenham percebido o valor do tempo que ainda têm com seus pais. Não tenham dúvida, o que seca um coração de boas palavras e boas ações é o pecado e a falta de oração, de ir à Missa de uma boa confissão. Mas é preciso acordar. E rápido. Porque quando a velhice avança, tudo muda num sopro. E depois, só resta o arrependimento — o mais cruel de todos: aquele que não tem mais onde ser consertado.
Ser filho não é apenas honrar os pais com palavras. É cuidar deles com amor ativo, concreto, diário. É visitar, observar, servir, alimentar, proteger, acompanhar ao médico, ouvir as histórias repetidas com gratidão. É se ajoelhar ao lado do leito e rezar com eles. É se deixar transformar pela presença deles enquanto ainda estão aqui.
A Bíblia diz: “Honra teu pai e tua mãe.” Esse mandamento não é apenas uma homenagem — é uma exigência. Uma filha que ama cuida. Uma filha que honra, se faz presente. Uma filha que compreende sua missão jamais se satisfaz com a distância cômoda.
Um filho honrado e virtuoso não foge das obrigações para com seus pais idosos. Não foge do serviço. Não foge da entrega. Quem ama de verdade, permanece até o fim.
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